Referência no tratamento a cardiopatias e nefropatias, o Hospital Ana Nery (HAN) realizou com sucesso, na última terça-feira (18), o primeiro transplante de coração do ano. A paciente contemplada estava há duas semanas sobrevivendo graças a máquinas que faziam o trabalho de bombeamento do sangue, em substituição ao coração. [Assista vídeo acima]
De acordo com o cirurgião responsável pelo procedimento, Dr. Jackson Brandão Lopes, o transplante era a única solução para o paciente.
“O coração do paciente, praticamente durante duas semanas, não funcionava. Ficou mantido por essas máquinas sofisticadas: uma fazia o papel do lado direito do coração, que envia o sangue para os pulmões, e outro do lado esquerdo, que envia o sangue para as outras partes do corpo”, explicou.
“Ela então foi listada como prioridade nacional para o transplante. Como o coração tem uma limitação de tempo – entre a gente tirar o coração do doador e colocar ele para bater em uma pessoa, a gente tem no máximo 4h. isso faz uma limitação de distância muito grande. A gente não pode buscar [o órgão] em outros estados, tem que ser uma distância muito pequena”, acrescentou.
Além das limitações da distância e de compatibilidade do órgão, Dr. Jackson também chamou a atenção para outro problema enfrentado.
“É muito importante essa conscientização das pessoas para a doação. Houve várias negativas de órgãos compatíveis. As famílias dos possíveis doadores não se sensibilizaram em doar. Isso requer uma sensibilização”, diz.
Por fim, surgiu o doador em uma cidade próxima a Salvador e, com o apoio da Polícia Militar, o coração foi transportado de helicóptero, que pousou em um campo de futebol localizado em uma comunidade que fica em frente ao Ana Nery.
O órgão chegou por volta das 15h20 e foi imediatamente levado para o centro cirúrgico, onde o transplante foi realizado.
“A cirurgia foi um sucesso. A paciente saiu da sala por volta das 21h e, por volta de 1h15 da manhã, já estava acordada, com o coração novo, conversando”, contou.
Dr. Jarbas Almeida, um dos médicos anestesistas que acompanharam o procedimento, explicou que um transplante como esse é como uma “operação de guerra” e diversos profissionais estão envolvidos.
“De nossa parte [anestesia], é uma atividade impossível de fazer sozinha. Fizemos eu e Dr. Tomas Estrela, e mesmo assim, em alguns momentos, precisamos recorrer a um outro colega para ajudar, porque é muito trabalhoso. A anestesia é continua. Tem partes mais sensíveis, mas é continua. Do momento em que o paciente chega, até sair da sala. E nosso trabalho se encerra quando a gente transmite as informações para o colega que vai cuidar da paciente na UTI”, afirmou.
Segundo Dr. Osvaldemar Regis, coordenador da UTI do Ana Nery, o paciente agora passará pelo menos uma semana na UTI, onde receberá assistência contra rejeição do órgão, além de prevenção contra infecções.
“O paciente será imunossupresso, para não haver rejeição. Você tem fases de rejeição. Neste momento, seria a fase de rejeição aguda, que é o momento mais crítico. Então, o cuidado agora é tratamento de infeções, prevenção de novas infeções e imunossupressão. Vão ser usados vários esquemas de drogas, para fazer com que o órgão não seja rejeitado”, explica.
“Nesse momento, o paciente está extubado, está conversando. O coração está batendo bem”, acrescenta.
Ele ainda chamou a atenção para a excelência da assistência prestada ao paciente.
“Independentemente da questão do transplante, já é um sucesso com relação à assistência. O fato do HAN ofertar essa assistência biventricular [máquinas que por duas semanas fizeram o sangue do paciente circular] já é algo muito diferente para o SUS. O paciente está com um aporte todo especial que o Ana Nery colocou: tem uma enfermeira exclusiva, uma técnica exclusiva, para que não fiquem transitando pessoas ali. O aparelho de ecocardiografia beira-leito fica exclusivo para o paciente. Como é um paciente que está com seu sistema imune lá embaixo, tem que ser protegido”, afirma.
O diretor geral do Ana Nery, Dr. Luiz Carlos Passos, celebrou o sucesso do procedimento.
“A pandemia não impediu que o Hospital Ana Nery realizasse o primeiro transplante cardíaco do ano com sucesso. As equipes comemoram não só o transplante, mas o alto volume de procedimentos cardiovasculares com níveis baixos de complicações. Isso tornou o HAN um dos mais produtivos e qualificados hospitais do Brasil nos últimos anos”, concluiu.